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“O Incerto Lugar do Desejo” concorre ao prémio de melhor documentário da 10.ª edição do FESTin.

Disse a certa altura do filme o filósofo húngaro Peter Pál Pelbart que “o desejo nos desterretorializa”, que esse ‘vírus’ que nos tolda e nos dá alento para a vida nos retira a terra. Condição sinequanon para seguir o desejo é ser corajoso, disse também Luiz Felipe Pondé, também ele filósofo.

“O Incerto Lugar do Desejo”, de Paula Trabusi, é uma pintura, “um documentário que explica as várias fases do desejo”, que não nos dá nenhuma conclusão, mas que durante 71 minutos nos liberta para pensar nisso, que nos devolve a casa com várias questões ou, somente, a vontade de nunca deixar de desejar.

O ensaio parte da personagem Ana Thereza, uma brasileira em Paris, interpretada por Maria Fernanda Cândido, casada, mas que, subitamente, descobre sensações corporais até então desconhecidas, provocadas por um outro homem que não o seu marido. É ali, na Cidade-Luz, envolta em esculturas de Rodin, despudoradas, nuas, envolventes, que ela questiona o que é o desejo, esse bicho que, quando voltado para a sexualidade, necessita, a maioria das vezes, ser castrado, não vivido, por imposição dos outros em nós.

“Uma mulher contemporânea lotada de certezas, que atua com tudo que as convenções esperam dela, questiona suas escolhas quando se depara com as inquietantes beguines do furioso e violento século XIII, mulheres muito mais livres que ela 800 anos antes.

Ao desmontar seu castelo de certezas, vive um inesperado affair, e, através do desejo, descobre várias camadas insuspeitas sobre ela mesma. Este instigante mergulho na alma feminina revela essa mulher lotada de retas redescobrir suas curvas”, lê-se na descrição do filme. Os trechos de Ana Thereza são sublimes, muitas das vezes em câmara lenta ou fotografia, com a sua voz em pano de fundo, o cabelo longo a esvoaçar livremente, a ponta do lápis no papel.

Partindo daqui, a directora Paula Trabusi conversa com filósofos, terapeutas, cientistas religiosos, escritoras – o livro de Ciça Azevedo Banco de Memórias serviu de base a esse documentário – artistas plásticas, músicos. Ao todo, são 12 os intervenientes, todos eles com perspectivas sobre o desejo, como ele se materializa, o que ele nos provoca, os tipos de desejo, como ele é motor para os nossos atos.

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