O desejo é algo que merece ser estudado mesmo que nunca venha a ser esclarecido de forma definitiva. E, neste caso, não me refiro somente ao desejo sexual, mas ao desejo em geral, à vontade eterna de buscar uma salvação. Não há uma resposta objetiva que possa calar todas as teorias acerca do desejo – não é à toa que, mesmo depois da Filosofia e da Sociologia passarem séculos se debruçando em cima do tema, diversas teses sobre o desejo continuam surgindo por aí. Para Arthur Schopenhauer, por exemplo, a vida humana se resume ao tédio e ao desejo, fazendo com que o indivíduo viva sempre com vontade de conquistar e de saciar alguma carência pessoal. A nossa vida inteira, portanto, é reduzida ao “querer”, mesmo que nós não façamos a menor ideia do que queremos.
Assim, é de se esperar que um documentário chamado “O Incerto Lugar do Desejo” identifique-se com tudo que acabei de relatar no parágrafo anterior, consistindo em uma longa busca pelo significado e pelo sentido do desejo propriamente dito. Dirigido por Paula Trabulsi, o longa toma como ponto de partida uma mulher, Ana Thereza, que está prestes a concluir seu doutorado com uma tese sobre… o desejo – e, com isso, o documentário encontra uma espécie de “desculpa” narrativa para que, a partir daí, comece a se concentrar em diversos depoimentos de filósofos, sociólogos e professores que relatam suas visões particulares a respeito do “querer”, da vontade eterna (e nebulosa) que o ser humano tem de alcançar… alguma coisa. Sendo assim, de onde vem o desejo? Como ele ganha forma? E, principalmente, o que ele significa de fato?
Ao longo de seus brevíssimos 70 minutos de projeção, “O Incerto Lugar do Desejo” dá voz a figuras como Lúcia Rosenberg, Luiz Felipe Pondé, Peter Pal Pelbart, Ciça Azevedo, Alexandre Cumino, Clóvis Barros Filho, André Trindade, José Miguel Wisnik, Constanza Pascolato, Nina Pandolfo e outras mais. Desta maneira, o documentário cria um emaranhado de ideias e pensamentos distintos que fornecem, para o espectador, uma série de possíveis interpretações que o levem a uma reflexão pessoal – aliás, o principal acerto de Trabulsi consiste na forma como estabelece o objetivo do filme: em vez de se preocupar com uma resposta definitiva que acabe com todos os questionamentos do público a respeito do desejo, a diretora prefere bombardeá-lo com diferentes linhas de raciocínio, permitindo que ele chegue às suas próprias conclusões. E isto faz sentido, já que, como falei no parágrafo introdutório, a discussão acerca do desejo já é antiga e, pelo jeito, não terminará nunca.