Relato anônimo

Meu desejo pertence ao espaço do sagrado. É um lugar extremamente amplo, hora cheio de objetos pendurados no teto, móbiles sonoros que eu posso tocar e fazer girar, hora também um espaço imenso com um teto de vidro. Eu transito livremente pelo meu desejo, enfrento os medos pois já sei, são ilusões que a luz da manhã e os ventos no final da tarde transformam em sentimentos plenos e leves. São paixões que me elevam toda vez que aparecem num lugar e tempo que não procuro, e quando percebo já estou sob seus efeitos, então, me aproximo de papéis e pincéis, de algum material que eu possa modelar e dar imagens, formas e texturas à imagem do meu desejo. E assim se transformam, por vezes, em carne e osso, quando sinto que vale a pena o risco. De alguma forma, sempre vale a pena.Sim, quando o desejo aparece, não me importo de dar esse espaço a ele, pois tem sido raro em minha vida este grande encontro, que também é um encontro raro do dia a dia, no entanto é para mim inevitável associar meu desejo ao contexto, e se nesse contexto ou cenário não acontecer o elemento do belo, o desejo em mim perde toda a força, e se transforma numa história que mais se parece com um bom trailer de um filme que nunca será rodado. Um teaser. Onde converso comigo mesma? Em qualquer lugar onde o silêncio me encontre. O desejo chega assim, silenciosamente, e depois se transforma nos sons de uma fanfarra. Não abriria mão de nada do que está comigo agora, casa, gato, comida, por desejo nenhum deste mundo que no mesmo caráter de empréstimo da vida não pudesse ser incorporado ou abrigado por mim neste imenso espaço do desejo, este espaço do sagrado. Porque tudo o que sou e que possuo são frutos de muitos dos meus desejos, e desejos de outros, alegrias e lágrimas de sorrisos e assim, portanto, o eternizado dentro de mim. Gosto e deixo o desejo me balançar do centro que imagino seguro, e simplesmente balanço junto, sem necessariamente me transformar num animal descontrolado. Até mesmo um cavalo tem o olhar meigo e cheio de ternura. O desejo é o natural da vida, e não há vida sem desejo. Enquanto o coração for forte dentro do peito, deixo o desejo chegar, porque tudo passa e o desejo também irá passar...Sorte saber que depois disso, virá outro, e mais outros, e outros muitos virão. Eu ficaria aqui um pouco mais de tempo escrevendo sobre o desejo, mas tenho neste exato momento, outro desejo: pipoca.

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ASAS